Li
recentemente o pequeno livro “Have We No Rights? A frank discussion of the
“rights” of missionaries” (“Não Temos Direitos?” Uma discussão franca dos
“direitos” dos missionários”), escrito por Mabel Williamson. Este livro foi
escrito a partir da perspectiva da China Inland Mission (a missão fundada no
século XIX pelo missionário Hudson Taylor), por isso muitos dos argumentos são
ilustrados com os métodos próprios que aquela organização tem de organizar o
trabalho missionário. No entanto, gostei de ler o livro e gostaria de partilhar
alguns dos pensamentos que dele retirei.
A
maioria dos cristãos luta toda a vida com a ordem dada pelo Senhor quanto a
“morrer para si mesmo”. Existe até a tentação de nos sentirmos bom connosco mesmos pelos dias em que nos “portámos bem”.
Para o missionário, “morrer para si mesmo” não é uma opção. Quando ele menos
espera, ele é lembrado do quão pouco valem os seus “direitos”. Para o
missionário a questão não é se ele irá
abrir mão dos seus direitos, mas como ele reage quando se torna óbvio que ele
não os tem. Eis alguns dos “direitos” que os missionários têm de estar
disponíveis para abrir mão, ao esforçarem-se para serem usados por Deus para a
Sua glória.
·
O direito de ter o que é considerado um padrão de vida normal: Para
poder ganhar o coração daqueles que
quer alcançar, o missionário tem de chegar ao ponto de se sentir em casa nas
suas casas. Também, quando as pessoas vêm visitar o missionário, é necessário
que elas se sintam confortáveis. Isto será diferente em lugares diferentes, mas
o princípio é o mesmo.
·
O
direito de ter as protecções normais quanto à saúde: Existem certas coisas que pensamos que
temos de fazer para podermos ficar saudáveis. Algumas dessas coisas não são
iguais no campo missionário. Será que eu estou disposto, em certas situações, a
abrir mão de alguns cuidados de saúde de forma a não ofender as pessoas que eu
estou a tentar alcançar?
·
O
direito de tratar dos meus assuntos pessoais como eu quero: De forma geral, nunca é boa ideia levantar
um problema por os padrões de outra pessoa serem mais elevados do que os meus.
Mas por vezes o facto de os meus padrões serem melhores trata-se apenas da
minha opinião. Será que sou capaz de
seguir os padrões de outra pessoa mesmo quando não os entendo e ninguém sequer
é capaz de me explicar a lógica que os governa?
·
O
direito à privacidade: Muitas vezes a simples presença do missionário é suficiente para ganhar a
atenção das pessoas. Parece nunca haver um lugar onde ele possa ir sem que as
pessoas o olhem fixamente. Aquilo que pode parecer desconfortável, pode na
verdade ser usado no ministério. O missionário deve querer que as pessoas olhem
para ele e passem a conhecê-lo. Ele pode usar isto para apontar estas pessoas
para Cristo.
·
O
direito ao meu tempo: Temos de aprender, quanto mais depressa melhor, que temos de ser guiados
pelo Senhor mesmo na forma como os nossos dias acabam por se desenrolar. Se o
nosso coração não estiver onde deve, podemos ficar frustrados que o Senhor nos
levou a fazer uma coisa que não se encontrava prevista no nosso horário previa
e cuidadosamente planeado.
·
O
direito a um relacionamento amoroso normal: Muitos têm aceite a chamada missionária sendo
solteiros. A sua dedicação ao Senhor irá significar que eles não terão um
relacionamento tal como as outras pessoas. Simplesmente não há tempo! Alguns
recebem do Senhor o dom de ficarem solteiros, a maioria não. De uma forma ou de
outra, será que estamos dispostos a fazer Dele
o nosso companheiro e descansar no facto de que pertencemos a Ele?
·
O
direito a uma vida familiar normal: Ter um lar cristão é um desafio. Tê-lo no campo
missionário, é um desafio ainda maior. Não nos devemos esquecer que queremos
ter um lar que honra a Cristo. Para o missionário, um lar onde cada um se nega
a si mesmo e são feitos sacrifícios por causa do ministério, é um lar com
Cristo no seu fundamento. O alvo é Cristo e não a normalidade.
·
O
direito a viver com as pessoas que eu escolher: Sempre haverão problemas entre pessoas. Qualquer
missionário irá sempre sentir que, se tivesse de escolher, preferiria trabalhar
com outras pessoas. No meio de tudo isso, temos de nos lembrar que há alguém que podemos escolher como
companheiro íntimo. Jesus está sempre presente e Ele é de confiança.
·
O
direito a sentir-se superior: A maioria de nós, quer estejamos ou não dispostos a admiti-lo, pensa
que a nossa forma de fazer as coisas é a melhor. Por vezes nem nos damos conta
de que o fazemos. Temos de nos esforçar para estarmos conscientes disto e
aceitar as formas que as pessoas que queremos alcançar têm de fazer as coisas.
·
O
direito de liderar: O
trabalho dos missionários plantadores de igrejas não é fazer o ministério. O
trabalho deles é treinar pessoas do campo missionário para fazer o ministério.
O trabalho tem de ser feito de forma a não ser completamente dependente do
missionário. Para poder fazer isto, o missionário tem de deixar de fazer certas
coisas que ele faria melhor (ou pensa que faz melhor).
Não penso que este livro tenha sido
escrito para desencorajar pessoas de embarcarem numa vida de serviço cristão.
De facto, o último capítulo do livro aponta para Aquele que viveu sem ter
quaisquer direitos. Jesus abdicou da Sua vida e de tudo o que tinha, para poder
ser o nosso redentor. Ao confiarmos Nele, e não naquilo que pensamos serem os
nossos “direitos”, estaremos a caminhar mais próximos a Ele e Ele nos tornará
mais parecidos com Ele.
Sem comentários:
Enviar um comentário